sexta-feira, 3 de março de 2017

João 10.1-10: O bom pastor


Quantas vezes observamos, em algumas geografias, o voo de uma mãe pássaro vinda do mar com a boca cheia de peixe. A sua espera, milhares ou até dezenas de milhares de jovens filhotes esperando avidamente com seu grito particular. Eles ficam todos empurrando uns aos outros, caindo um sobre os outros. De alguma forma, as mães discernem a voz singular de seu filhote em meio à multidão barulhenta. Parece até um milagre.

Mesmo nos dias de hoje, um pastor no oriente médio pode ir a um abarrotado rebanho de ovelhas, chamar suas ovelhas uma a uma, e elas reconhecerão sua voz e irão até ele.

O pastor gasta muitas horas por dia na companhia das ovelhas. Ele conhece suas características individuais, suas marcas, seus gostos e do que não gosta. E mais, as ovelhas o conhecem. Outros podem ir até o elas, mas elas não irão até ele, mesmo que chame pelo nome correto. Apenas uma voz importa, a voz de quem elas confiam...

Os versículos 1 a 5 são uma parábola. Jesus dá três explicações sobre ela, as quais estão nos versículos 7-10, 11-18 e 25-30.

Perceba que, quando o livro foi escrito, não havia divisões em capítulos. Então, é importante observar a sequência iniciada no capítulo 9. E o que dominava nesse capítulo era: Jesus veio de Deus ou não? Ele é um profeta ou não? Ele é o Messias ou não, o “filho do homem”, através de quem Deus julgará o mundo?Agora aqui, no que nós chamamos de capítulo 10, existe uma parábola sobre pastores e ovelhas. 

Qual a conexão?

Na Bíblia, o retrato de pastores e ovelhas frequentemente é usado para referir-se ao rei e seu povo. No mundo contemporâneo, nós não pensamos de governadores e líderes dessa maneira. Nós imaginamos pessoas dirigindo grandes companhias, presidentes de bancos ou corporações transnacionais. Nós imaginamos pessoas sentadas atrás de uma escrivaninha, redigindo cartas ou marcando encontros de negócio. A maioria dessas pessoas vive distante daqueles que trabalham para elas; não os reconheceriam se os vissem face a face e, provavelmente, não saberia o nome da maioria.

Mas, na Bíblia, o rei ideal é retratado como um pastor (Ezequiel 34), talvez moldado pelo pastor-menino Davi, o qual se tornou o rei segundo o coração de Deus. Em um mundo onde era conhecido o íntimo contato e confiança entre pastor e ovelha, esse era o seu jeito preferido de falar sobre o legítimo rei.

Essa é, então, a imagem que Jesus escolheu para explicar sua própria afirmação de ser o verdadeiro rei de Israel

Embora gerações de leitores da Bíblia terem se apressado ao verso 11, onde Jesus chama a si mesmo de “o bom pastor”, nós deveríamos nos dar conta que nesses cinco primeiro versículos ele não fala de si mesmo diretamente. Ele está falando, de modo abstrato, sobre a diferença entre o verdadeiro e o falso pastor.

Mas, quem são esses pastores falsos, esses “ladrões e agitadores”, esses “estranhos”?

Provavelmente, Jesus tenha em mente os vários líderes que emergiram durante sua vida. Alguns, os quais podemos chamar de líderes revolucionários ou senhores da guerra, estavam ávidos para levar Israel à confrontação com os poderes imperiais. Outros, particularmente da casa de Herodes, estavam ansiosos para submeter-se a Roma tanto quanto isso significasse conservar seu próprio poder e riqueza.

Jesus está levantando a questão: como vocês descreverão o verdadeiro rei enviado por Deus?

A resposta é que o verdadeiro rei será descrito como o verdadeiro pastor. Qualquer um poderia se tornar um líder em Jerusalém. Mas apenas aquele que viesse do jeito de Deus seria apontado como aquele que tem o direito de ser rei. Qualquer um pode chamar seguidores. Mas o sinal do verdadeiro rei é uma resposta que vem do coração, quando as pessoas ouvem a sua voz e, em amor e verdade, o seguem.

Apesar das evidências que apontavam para Jesus, seus ouvintes continuavam com o olhar perdido. Então, Jesus fornece mais explicações. A primeira, nos versos 7-10, destaca uma interessante parte da função pastoral.

Jesus é o portão ou a porta. Em muitos rebanhos orientais, o pastor passa a noite no portão, a fim de conter as ovelhas que fogem ou os predadores que podem entrar. Aqui, Jesus parece indicar a maneira através da qual os pastores conservam as ovelhas a salvo, e, como é dito do próprio Deus em Salmos 121.8, “Ele guardará a sua saída e a sua entrada”. A ênfase é na segurança e na vida plena da ovelha. O pastor não faz negócios de seu próprio interesse. Sua prioridade são as ovelhas. Encontre um rei como esse e você encontrará o ungido do Senhor.

A promessa, portanto, de vida plena, superabundante, é tão relevante para nós hoje como era naquela época. O moderno mundo ocidental tem descoberto quanta insatisfação o materialismo realmente traz e está ansiando por algo mais, algo além. Muitos ladrões têm contado mentiras, tem enganado as ovelhas, roubando-as e deixando-as para morrerem. O chamado hoje para as verdadeiras ovelhas de Jesus é para ouvirem sua voz e encontrar nele, e apenas nele, a vida que, com certeza, é vida superabundante.