Simplesmente Cristão, p. 181-182
Há ainda outra oração que pode ser usada da mesma forma das orações
anteriores [descritas no artigo prévio, ”Orações
cristãs”], e acredito que tenha sido usada assim nos primórdios da igreja
primitiva.
No antigo judaísmo, assim como no moderno, há uma oração que
deve ser recitada três vezes ao dia, começando com a frase encontrada em
Deuteronômio 6.4:
“Ouve, Israel, o Senhor [YHWH] nosso Deus [YHWH] é o único Senhor
[YHWH]. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o coração”.
Essa oração é conhecida como a oração Shema, que significa “Ouve” em hebraico. As pessoas, às vezes,
ficam surpresas quando descobrem que se trata de uma oração, pois mais parece
uma declaração teológica acrescida de uma ordem.
Mas, assim como a leitura das Escrituras durante o culto não
tem como propósito relatar à congregação algo que ela desconhece, mas louvar a
Deus pelo que ele tem feito, declarar quem ele realmente é [YHWH] e o que ele
requer do povo da aliança é de fato uma oração, um ato de adoração e de
compromisso.
É uma forma de tirar o foco de nós mesmos e de nossa lista
de necessidades, desejos, expectativas e temores para colocá-lo inteiramente em
Deus, no nome de Deus, no caráter de Deus, nas intenções de Deus, no convite
amoroso de Deus, na glória de Deus.
O simples fato de pensar nessas palavras como oração é
altamente instrutivo.
Nos primórdios do cristianismo essa oração floresceu por
causa de Jesus. [...] Paulo, em Corinto, lembrou aos cristãos que eles eram
monoteístas, tal como os judeus, e não politeístas pagãos; e para completar a
argumentação, ele citou essa oração em sua nova forma cristã:
“Todavia
para nós há um só Deus e Pai,
de quem são
todas as coisas e para quem existimos;
e um só
Senhor, Jesus Cristo,
pelo qual
são todas as coisas e nós também por ele.”
(1Coríntios 8.6)
[Na sequência dessa passagem], depois de falar sobre o nosso amor por Deus, Paulo então
passa a falar de nosso amor pelos outros, o amor que flui exatamente do fato de
o Messias ter morrido pelo nosso próximo da mesma forma que morreu por nós.
Por que não fazer dessas palavras nossa oração?
Assim como a “Oração de Jesus”, ela pode ser recitada
vagarosamente e repetidamente. Como os grandes cânticos de louvor em Apocalipse
4 e 5, ela resume a adoração e o louvor a Deus como criador e redentor.
Nota: As frases “de quem... para quem” e “pelo qual... por
ele” são densas, porém claras declarações do Pai como a origem e o propósito de
todas as coisas, e do Filho como aquele por meio de quem todas as coisas foram
feitas, e todas as coisas foram redimidas. Paulo se estende mais sobre esse
assunto em Colossenses 1.15-20.
Meditar em Deus dessa forma, portanto, é avistar, como um balonista num
dia claro, todo o majestoso cenário dos amorosos propósitos de Deus, observando
essa ou aquela característica em particular, porém sem perder a visão do todo.
Os cristãos primitivos com certeza entendiam alguma coisa
sobre oração. Temos muito a aprender com eles.
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