quinta-feira, 1 de setembro de 2016

“Shema” como oração cristã



Simplesmente Cristão, p. 181-182

Há ainda outra oração que pode ser usada da mesma forma das orações anteriores [descritas no artigo prévio, ”Orações cristãs”], e acredito que tenha sido usada assim nos primórdios da igreja primitiva.

No antigo judaísmo, assim como no moderno, há uma oração que deve ser recitada três vezes ao dia, começando com a frase encontrada em Deuteronômio 6.4:

“Ouve, Israel, o Senhor [YHWH] nosso Deus [YHWH] é o único Senhor [YHWH]. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o coração”.

Essa oração é conhecida como a oração Shema, que significa “Ouve” em hebraico. As pessoas, às vezes, ficam surpresas quando descobrem que se trata de uma oração, pois mais parece uma declaração teológica acrescida de uma ordem.

Mas, assim como a leitura das Escrituras durante o culto não tem como propósito relatar à congregação algo que ela desconhece, mas louvar a Deus pelo que ele tem feito, declarar quem ele realmente é [YHWH] e o que ele requer do povo da aliança é de fato uma oração, um ato de adoração e de compromisso.

É uma forma de tirar o foco de nós mesmos e de nossa lista de necessidades, desejos, expectativas e temores para colocá-lo inteiramente em Deus, no nome de Deus, no caráter de Deus, nas intenções de Deus, no convite amoroso de Deus, na glória de Deus.

O simples fato de pensar nessas palavras como oração é altamente instrutivo.

Nos primórdios do cristianismo essa oração floresceu por causa de Jesus. [...] Paulo, em Corinto, lembrou aos cristãos que eles eram monoteístas, tal como os judeus, e não politeístas pagãos; e para completar a argumentação, ele citou essa oração em sua nova forma cristã:

“Todavia para nós há um só Deus e Pai,
de quem são todas as coisas e para quem existimos;
e um só Senhor, Jesus Cristo,
pelo qual são todas as coisas e nós também por ele.”
(1Coríntios 8.6)

[Na sequência dessa passagem], depois de falar sobre o nosso amor por Deus, Paulo então passa a falar de nosso amor pelos outros, o amor que flui exatamente do fato de o Messias ter morrido pelo nosso próximo da mesma forma que morreu por nós.

Por que não fazer dessas palavras nossa oração?

Assim como a “Oração de Jesus”, ela pode ser recitada vagarosamente e repetidamente. Como os grandes cânticos de louvor em Apocalipse 4 e 5, ela resume a adoração e o louvor a Deus como criador e redentor.

Nota: As frases “de quem... para quem” e “pelo qual... por ele” são densas, porém claras declarações do Pai como a origem e o propósito de todas as coisas, e do Filho como aquele por meio de quem todas as coisas foram feitas, e todas as coisas foram redimidas. Paulo se estende mais sobre esse assunto em Colossenses 1.15-20.

Meditar em Deus dessa forma, portanto, é avistar, como um balonista num dia claro, todo o majestoso cenário dos amorosos propósitos de Deus, observando essa ou aquela característica em particular, porém sem perder a visão do todo.

Os cristãos primitivos com certeza entendiam alguma coisa sobre oração. Temos muito a aprender com eles.


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