terça-feira, 6 de setembro de 2016

A vocação da cruz

O Grito, E. Munch

Os desafios de Jesus, p. 212

Se desejamos ser proclamadores do Reino, apresentando uma novo forma de viver como humanos, devemos também refletir a cruz. Essa é uma expressão estranha, mas que também faz parte de nossa tarefa como seguidores de Jesus.

Moldar nosso mundo nunca é, para um cristão, uma questão de sair de forma arrogante, pensando que podemos organizar o mundo de acordo com o modelo que tivermos em mente. Trata-se de compartilhar a dor e o sofrimento do mundo, de forma que o amor crucificado de Deus, em Cristo, traga cura ao mundo nas áreas que ele precisa ser curado.

Porque Jesus carregou a cruz de forma única por nós, o perdão não precisa mais ser comprado; está consumado. Contudo, porque, como ele mesmo disse, segui-lo envolve carregar a nossa cruz, devemos esperar, como diz o Novo Testamento repetidas vezes, encontrar uma cruz a seguir constantemente em nosso caminho.

Se pudéssemos, escolheríamos não ter de carregá-la. Encontramo-nos no Getsêmani, dizendo, “Senhor, tem que ser assim mesmo? Se eu tenho sido tão obediente até aqui, por que as coisas têm que acontecer comigo dessa forma? O Senhor quer que eu me sinta assim mesmo?”

Em algumas ocasiões, a resposta pode até ser “não”. É possível que, às vezes, tenhamos tomado o caminho errado, tendo que, então, mudar de rota e seguir por outra estrada. Contudo, frequentemente, a resposta é que devemos permanecer no Getsêmani mesmo.

O caminho do cristão não é o do silêncio sufocador, do comprometimento herodiano ou do zelo militar. O caminho do cristão é o de ser, em Cristo e pelo Espírito, alguém que esteja no lugar onde o mundo está em sofrimento, de forma que o amor de Deus seja manifestado, curando toda espécie de dor.

Essa perspectiva encontra profunda base na teologia do Novo Testamento, principalmente em Romanos 8. Ali, Paulo fala sobre toda a criação gemendo.

Onde deve estar a igreja em momentos como esse? Sentada no canto, sabendo que tem a resposta? Não diz Paulo: nós também gememos, porquanto também aguardamos pela redenção dos filhos de Deus, por nossa libertação final.

Onde está Deus nisso tudo? Sentado no céu, desejando que pudéssemos agir por conta própria? Não, insiste o apóstolo (8.26-27): Deus também geme, presente em sua igreja no lugar onde o mundo sofre.

O Espírito de Deus geme em nós, clamando e intercedendo ao Pai. A vocação cristã é estar, em oração e no Espírito, no lugar onde o mundo está em sofrimento. 

Ao abraçarmos essa vocação, descobrirmos que essa é a forma de se seguir a Jesus, moldada por sua vocação messiânica revelada na cruz, com os braços estendidos, segurando a dor e o sofrimento do mundo e liberando o amor de Deus.


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