O Grito, E. Munch
Os desafios de Jesus, p. 212
Se desejamos ser proclamadores do Reino, apresentando uma
novo forma de viver como humanos, devemos também refletir a cruz. Essa é uma
expressão estranha, mas que também faz parte de nossa tarefa como seguidores de
Jesus.
Moldar nosso mundo nunca é, para um cristão, uma questão de
sair de forma arrogante, pensando que podemos organizar o mundo de acordo com o
modelo que tivermos em mente. Trata-se de compartilhar a dor e o sofrimento do
mundo, de forma que o amor crucificado de Deus, em Cristo, traga cura ao mundo
nas áreas que ele precisa ser curado.
Porque Jesus carregou a cruz de forma única por nós, o
perdão não precisa mais ser comprado; está consumado. Contudo, porque, como ele
mesmo disse, segui-lo envolve carregar a nossa cruz, devemos esperar, como diz
o Novo Testamento repetidas vezes, encontrar uma cruz a seguir constantemente
em nosso caminho.
Se pudéssemos, escolheríamos não ter de carregá-la.
Encontramo-nos no Getsêmani, dizendo, “Senhor, tem que ser assim mesmo? Se eu
tenho sido tão obediente até aqui, por que as coisas têm que acontecer comigo
dessa forma? O Senhor quer que eu me sinta assim mesmo?”
Em algumas ocasiões, a resposta pode até ser “não”. É
possível que, às vezes, tenhamos tomado o caminho errado, tendo que, então,
mudar de rota e seguir por outra estrada. Contudo, frequentemente, a resposta é
que devemos permanecer no Getsêmani mesmo.
O caminho do cristão não é o do silêncio sufocador, do
comprometimento herodiano ou do zelo militar. O caminho do cristão é o de ser,
em Cristo e pelo Espírito, alguém que esteja no lugar onde o mundo está em
sofrimento, de forma que o amor de Deus seja manifestado, curando toda espécie
de dor.
Essa perspectiva encontra profunda base na teologia do Novo
Testamento, principalmente em Romanos 8. Ali, Paulo fala sobre toda a criação
gemendo.
Onde deve estar a igreja em momentos como esse? Sentada no
canto, sabendo que tem a resposta? Não diz Paulo: nós também gememos, porquanto
também aguardamos pela redenção dos filhos de Deus, por nossa libertação final.
Onde está Deus nisso tudo? Sentado no céu, desejando que
pudéssemos agir por conta própria? Não, insiste o apóstolo (8.26-27): Deus
também geme, presente em sua igreja no lugar onde o mundo sofre.
O Espírito de Deus geme em nós, clamando e intercedendo ao
Pai. A vocação cristã é estar, em oração e no Espírito, no lugar onde o mundo
está em sofrimento.
Ao abraçarmos essa vocação, descobrirmos que essa é a forma de se seguir a Jesus, moldada por sua vocação messiânica revelada na cruz, com os braços estendidos, segurando a dor e o sofrimento do mundo e liberando o amor de Deus.
Ao abraçarmos essa vocação, descobrirmos que essa é a forma de se seguir a Jesus, moldada por sua vocação messiânica revelada na cruz, com os braços estendidos, segurando a dor e o sofrimento do mundo e liberando o amor de Deus.
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