quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Nem coerção, nem passividade, mas discipulado



Seguindo Jesus, p. 61-63

O evangelho de Marcos funciona como um pequeno manual para os seguidores de Jesus. Ele está estruturado de forma bem simples, em duas partes. A porção do capítulo 1 ao capítulo 8 nos apresenta o primeiro segredo: Jesus de Nazaré é, de fato, o Messias. A porção que inclui os demais capítulos (do 9 ao 16) nos apresenta o segundo segredo: esse messias não é um guerreiro militar, mas o Servo Rei.

A todo momento, Marcos está pontuando sua narração com histórias, como se estivesse perguntando aos seus leitores: você está entendendo a questão? Caso esteja, está preparado para seguir a Jesus? Está pronto para uma vida de discipulado? Está preparado para ser um agente na implementação de sua vitória nessa terra?

A igreja, ironicamente, tem se dividido entre as duas opções rejeitadas por Jesus no Getsêmani. 

Há tempos em que ela vive como se estivesse em uma cruzada, transformando a espada do evangelho no evangelho da espada, pensando em espalhar as boas novas através das armas que consegue carregar. Que Deus nos perdoe por termos transformado a cruz, símbolo do amor sacrificial, em um símbolo que tem causado medo em pessoas ao redor do mundo. 

Por outro lado, há momentos em que a igreja parece ter se recolhido, se escondido em seus lugares privados, pensando na religião como apenas uma questão que envolve indivíduos e Deus – ou melhor, a igreja e Deus – sem ter nada a oferecer ao resto da população mundial. Essa tem sido uma escolha depois de momentos de cruzada. Mesmo assim, não se parece com a escolha do Servo Rei.

O que Marcos tem a dizer?

Marcos nos convida a pararmos de projetar no mundo a culpa e o medo que sentimos dentro de nós. 

Além disso, ele nos convida a tomarmos nossa própria cruz e seguirmos a Jesus. 

Ele pinta um quadro tragicômico dos discípulos: errando e não compreendendo as coisas, falhando ao entender o que Jesus estava fazendo e abandonando-o completamente.

Porém, ele continua a mostrar Jesus ensinando seus discípulos, amando-os, guiando-os e morrendo por eles. Aqui é o lugar onde começamos. [...] 

A boa nova, então, diz respeito ao convite para que você se assente à mesa de Jesus, deixando todas as demais coisas aos pés da cruz, e recebendo nova vida, a vida de Jesus, trazendo-lhe uma nova razão de viver.

Vale, ainda, saber que Marcos não para por aí em sua apresentação. 

Ele estava, provavelmente, escrevendo para uma igreja que enfrentava perseguição; seu convite ao discipulado não era apenas uma questão de piedade pessoal, mas um convite para que as pessoas permanecessem de pé pela causa do evangelho, pelo seu Servo Messias, na perigosa arena desse mundo.

Ele nos convida, em outras palavras, a sermos parte da solução, ao invés de sermos parte do problema. Marcos nos chama a deixarmos de ser aqueles que provocam incêndios, a fim de sermos aqueles que os apagam.

Marcos convoca a igreja a abandonar os sonhos imperialistas, bem como o não-envolvimento, e a se tornar para o mundo aquilo que Jesus foi quando esteve aqui. Isso é o que discipulado – seguir a Cristo – realmente significa.


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