segunda-feira, 30 de maio de 2016

Evangelismo - modelo do NT


Surpreendido pela Esperança, p.239-240.

Para muitos, "evangelismo" consiste em assimilar a estrutura tradicional céu/inferno, convencendo as pessoas de que este é o momento de considerarem a opção "céu" e agarrar-se a ela enquanto puderem. Afinal, o que as impede de chegar lá é o pecado, mas como Jesus Cristo já solucionou esse problema, tudo que elas precisam fazer é aceitá-lo!

Milhões de pessoas se tornaram cristãs porque ouviram essa mensagem e reponderam a ela. [...] Deus age em consequência da oração e da fidelidade, não da técnica ou da habilidade.

Porém, isso não é desculpa para não compreendermos o que acontece quando evengelizamos ou para não usarmos o modelo bíblico de evangelização.

Assim, devemos começar declarando que “evangelho”, no Novo Testamento, é a boa nova, anunciando que Deus (o criador do mundo) está, por fim, se tornando rei, e que esse Jesus, que Deus levantou dentre os mortos, é o verdadeiro Senhor do mundo.

Há mil maneiras diferentes de proclamar essa verdade, dependendo da plateia e da ocasião (veja a variedade de sermões no livro de Atos!). Algumas pessoas talvez já tenham ouvido falar de Jesus, outras talvez tenham apenas uma vaga ideia de quem ele é; alguns, ao ouvir a palavra “Deus”, pensarão logo em um senhor de barbas brancas, enquanto outros pensarão em um tipo de energia celeste. Quase todos precisarão de ajuda para entender alguns detalhes da mensagem.

O poder do evangelho não está na proposta de uma nova espiritualidade ou experiência religiosa, nem na ameaça do fogo do inferno (e, certamente, não na ameaça de ser “deixados para trás”), que pode ser eliminada assim que o ouvinte assinalar determinada opção, fizer a oração certa, levantar a mão, ou alguma coisa desse tipo. 

O poder do evangelho está na poderosa declaração de que Deus é Deus e Jesus é o Senhor; os poderes do mal foram derrotados e o novo mundo de Deus já começou. [...]

Todas as vezes que o evangelho é anunciado, de um jeito ou de outro, no mesmo instante, todas as pessoas são alegremente convidadas a entrar, se juntar à festa e receber perdão pelos pecados cometidos no passado, além de desfrutar de um maravilhoso destino no futuro de Deus e de uma vocação no presente.

Ao aceitar esse convite e receber as boas vindas, todas as emoções e esperanças serão finalmente integradas.


quarta-feira, 11 de maio de 2016

Jesus está voltando: plante uma árvore!


Jesus está voltando, então, plante uma árvore. Essa frase pode parecer tão engraçada quanto inesperada. Mas isso é porque, para muitos cristãos devotos, a segunda vinda é o momento em que o mundo, como o conhecemos, chega ao fim e Jesus leva seu próprio povo para o céu para viver ali com ele para sempre.
Se isso acontecerá, por que você plantaria uma árvore? Por que consertar um carro que está prestes a ser lançado do penhasco?
Entretanto, será esse o sentido da segunda vinda?
Em Colossenses 1.15-20 lê-se:
“15 Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito sobre toda a criação, 16 pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. [...] 20 e por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão nos céus, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz.”
   Assim, Paulo nos diz que todas as coisas serão reconciliadas em Cristo. Não existe qualquer ideia de jogar a criação no lixo, enquanto o ser humano remido vive em outro lugar.
  Existe muita polêmica em torno de textos específicos usados para elaborar a ideia da segunda vinda (Cf. 1Ts 4.13-18; Mc 13.24-27; 2Pe 3.1-10; entre outros). Mas quero propor interpretá-los à luz da ressurreição e da nova criação, estabelecidas em e através de Jesus.
    Por ora, devemos nos concentrar em um elemento particular: a palavra parousia, termo usado para identificar a segunda vinda de Jesus.
A palavra parousia significa “aparição real” e era usada com frequência para descrever a “vinda” ou a “aparição real” de César quando ele visitava uma cidade ou voltava para sua casa em Roma. E o que acontecia em tal parousia era que os principais cidadãos saíam para encontrá-lo, sendo o termo técnico para tal encontro apantçsis, a mesma palavra que Paulo usa em 1Ts 4 para “encontro” (“encontrarmos com o Senhor nos ares”). Todavia, depois de encontrarem César, os cidadãos não ficavam lá no campo. Não faziam um piquenique ali e, em seguida, se despediam dele; eles saíam para escoltar seu senhor majestosamente até a cidade.
Portanto, como Apocalipse deixa claro em várias passagens, com ecos no Novo Testamento, a questão é que Jesus reinará na terra, e os fiéis irão encontrá-lo em sua aparição real.
No Novo Testamento, a segunda vinda não é o momento em que Cristo arrebata as pessoas, longe da terra, para viverem para sempre com ele em outro lugar, mas o momento em que ele volta para reinar tanto no céu como na terra. Afinal, o Jesus ressurreto declara em Mateus 28: “Deus deu todo o poder no céu e na terra a mim”. Ele faz disso o fundamento para a comissão que dá aos seus discípulos.
Implicação na missão
A questão de como você imagina o futuro final tem impacto claro e direto em como você compreende a missão da igreja hoje.
Se você imagina viver sob a teologia do “Deixados para trás” (a segunda vinda tem o sentido de resgatar o povo de Deus e levá-lo para outro lugar, enquanto esse mundo é destruído), o mundo presente será encarado como ruim. Então, sua missão será escapar desse mundo e permitir que o maior número de pessoas faça o mesmo. Por que se preocupar com a ecologia, por exemplo, se tudo logo será destruído? Esse é o caminho que tem se aproximado demais do gnosticismo.
Por outro lado, se você ignora a segunda vinda como um ato de juízo e restauração de Deus, você tende a imaginar o aprimoramento desse mundo até ele se tornar o lugar ideal que Deus intenciona. Então, sua missão será, fundamentalmente, trabalhar em programas de melhoria social e cultural, incluindo o cuidado com o meio ambiente. Esse é o caminho iluminista da evolução pelo esforço humano.
Essas perspectivas, na verdade, podem ser encaradas como caricaturas. Temos de elaborar uma escatologia bíblica mais consistente e repensar nossa missão a partir disso.
Então, observe com atenção o extraordinário versículo de 1Coríntios 15.58: “Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil.”
À luz de todo o capítulo de 1Coríntios 15, o qual trata sobre a ressurreição corporal de Jesus e da nossa nessa terra, podemos relacionar a missão à ressurreição.
A ressurreição significa que aquilo que você faz é importante para Deus.
A ressurreição do mundo maravilhoso de Deus, a Nova Criação, começou com a ressurreição de Jesus e continua misteriosamente à medida que o povo de Deus vive no Cristo ressurreto e no poder de seu Espírito.
Isso significa que o que fazemos Nele e pelo seu Espírito no presente não é desperdício. Durará e será aperfeiçoado no novo mundo de Deus.
Deus, portanto, chama a humanidade para viver em Cristo e, pelo poder do seu Espírito, sermos as pessoas da nova criação aqui e agora, criando sinais e símbolos do seu reino na terra como no céu.
Isso não significa que somos chamados para construir o reino por nossos próprios esforços, nem mesmo com a ajuda do Espírito. Quando vier, o reino final será um dom gratuito de Deus, um grande ato de graça e nova criação. 

Entretanto, somos chamados para edificar esse reino.
Como artesãos que trabalham em uma grande catedral, cada um de nós recebeu instruções sobre como entalhar uma pedra específica ao longo da vida, sem saber nem sequer deduzir qual será o lugar que ela ocupará dentro do grande projeto. Mas, sabemos que não será em vão. Isso diz tudo.
Na nova criação, o antigo mantado humano para cuidar do jardim é reafirmado de forma drástica, a fim de nos tornar os seres plenamente humanos que deveríamos ser.
Então, o que estamos esperando? Jesus está voltando. Vamos plantar essas árvores.


OBS: A muito a falar sobre isso. O intuito desse texto é promover uma cosmovisão bíblica capaz de orientar a igreja de Cristo para um pensar teológico e missão relevantes no mundo de hoje. Ele foi baseado no livro de N.T. Wright, “Surpreendido pelas Escrituras” (cap. 5), onde o tema é tratado mais detalhadamente, inclusive os textos bíblicos a respeito da segunda vinda.