Jesus
está voltando, então, plante uma árvore. Essa frase pode parecer tão engraçada
quanto inesperada. Mas isso é porque, para muitos cristãos devotos, a segunda
vinda é o momento em que o mundo, como o conhecemos, chega ao fim e Jesus leva
seu próprio povo para o céu para viver ali com ele para sempre.
Se
isso acontecerá, por que você plantaria uma árvore? Por que consertar um carro
que está prestes a ser lançado do penhasco?
Entretanto,
será esse o sentido da segunda vinda?
Em
Colossenses 1.15-20 lê-se:
“15 Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito
sobre toda a criação, 16 pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na
terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou
autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. [...] 20 e por
meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra
quanto as que estão nos céus, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na
cruz.”
Assim, Paulo
nos diz que todas as coisas serão reconciliadas em Cristo. Não existe qualquer
ideia de jogar a criação no lixo, enquanto o ser humano remido vive em outro
lugar.
Existe muita
polêmica em torno de textos específicos usados para elaborar a ideia da segunda
vinda (Cf. 1Ts 4.13-18; Mc 13.24-27; 2Pe 3.1-10; entre outros). Mas quero
propor interpretá-los à luz da ressurreição e da nova criação, estabelecidas em
e através de Jesus.
Por ora,
devemos nos concentrar em um elemento particular: a palavra parousia, termo usado para identificar a
segunda vinda de Jesus.
A palavra parousia significa
“aparição real” e era usada com frequência para descrever a “vinda” ou a
“aparição real” de César quando ele visitava uma cidade ou voltava para sua
casa em Roma. E o que acontecia em tal parousia
era que os principais cidadãos saíam para encontrá-lo, sendo o termo técnico
para tal encontro apantçsis, a mesma
palavra que Paulo usa em 1Ts 4 para “encontro” (“encontrarmos com o Senhor nos
ares”). Todavia, depois de encontrarem César, os cidadãos não ficavam lá no
campo. Não faziam um piquenique ali e, em seguida, se despediam dele; eles saíam para escoltar seu senhor
majestosamente até a cidade.
Portanto, como Apocalipse deixa claro em várias passagens, com ecos no
Novo Testamento, a questão é que Jesus reinará na terra, e os fiéis irão
encontrá-lo em sua aparição real.
No Novo Testamento, a segunda vinda não é o momento em que Cristo
arrebata as pessoas, longe da terra, para viverem para sempre com ele em outro
lugar, mas o momento em que ele volta para reinar tanto no céu como na terra. Afinal,
o Jesus ressurreto declara em Mateus 28: “Deus deu todo o poder no céu e na
terra a mim”. Ele faz disso o fundamento para a comissão que dá aos seus
discípulos.
Implicação na missão
A
questão de como você imagina o futuro final tem impacto claro e direto em como
você compreende a missão da igreja hoje.
Se
você imagina viver sob a teologia do “Deixados para trás” (a segunda vinda tem
o sentido de resgatar o povo de Deus e levá-lo para outro lugar, enquanto esse
mundo é destruído), o mundo presente será encarado como ruim. Então, sua missão
será escapar desse mundo e permitir que o maior número de pessoas faça o mesmo.
Por que se preocupar com a ecologia, por exemplo, se tudo logo será destruído? Esse é o
caminho que tem se aproximado demais do gnosticismo.
Por outro lado, se
você ignora a segunda vinda como um ato de juízo e restauração de Deus, você tende a imaginar o aprimoramento desse mundo até ele se tornar o lugar ideal que Deus
intenciona. Então, sua missão será, fundamentalmente, trabalhar em programas de melhoria social e
cultural, incluindo o cuidado com o meio ambiente. Esse é o caminho iluminista
da evolução pelo esforço humano.
Essas
perspectivas, na verdade, podem ser encaradas como caricaturas. Temos de
elaborar uma escatologia bíblica mais consistente e repensar nossa missão a
partir disso.
Então,
observe com atenção o extraordinário versículo de 1Coríntios 15.58: “Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se
firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois
vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil.”
À luz de todo o capítulo de 1Coríntios 15, o qual trata sobre a
ressurreição corporal de Jesus e da nossa nessa terra, podemos relacionar a
missão à ressurreição.
A ressurreição significa que
aquilo que você faz é importante para Deus.
A ressurreição do mundo maravilhoso de Deus, a Nova Criação, começou
com a ressurreição de Jesus e continua misteriosamente à medida que o povo de
Deus vive no Cristo ressurreto e no poder de seu Espírito.
Isso significa que o que fazemos Nele e pelo seu Espírito no presente
não é desperdício. Durará e será aperfeiçoado no novo mundo de Deus.
Deus, portanto, chama a humanidade para viver em Cristo e, pelo poder do seu
Espírito, sermos as pessoas da nova criação aqui e agora, criando sinais e
símbolos do seu reino na terra como no céu.
Isso não significa que somos chamados para construir o reino por nossos
próprios esforços, nem mesmo com a ajuda do Espírito. Quando vier, o reino
final será um dom gratuito de Deus, um grande ato de graça e nova criação.
Entretanto, somos chamados para edificar esse reino.
Entretanto, somos chamados para edificar esse reino.
Como artesãos que trabalham em uma grande catedral, cada um de nós
recebeu instruções sobre como entalhar uma pedra específica ao longo da vida,
sem saber nem sequer deduzir qual será o lugar que ela ocupará dentro do grande
projeto. Mas, sabemos que não será em vão. Isso diz tudo.
Na nova criação, o antigo mantado humano para cuidar do jardim é
reafirmado de forma drástica, a fim de nos tornar os seres plenamente humanos
que deveríamos ser.
Então, o que estamos esperando? Jesus está voltando. Vamos plantar
essas árvores.
OBS: A muito a falar sobre isso. O intuito desse texto é promover uma cosmovisão bíblica capaz de orientar a igreja de Cristo para um pensar teológico e missão relevantes no mundo de hoje. Ele foi baseado
no livro de N.T. Wright, “Surpreendido pelas Escrituras” (cap. 5), onde o tema
é tratado mais detalhadamente, inclusive os textos bíblicos a respeito da
segunda vinda.
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