sábado, 30 de abril de 2016

O sentido da ascensão de Jesus


“Tendo dito isso, foi elevado às alturas enquanto eles olhavam, e uma nuvem o encobriu da vista deles.” (Atos 1.9)

Na Bíblia, céus e terra são duas metades do mundo criado por Deus.

Embora Terra seja o nome dado, também, a nosso planeta em particular, dentro de nosso sistema solar, na Bíblia, "terra" significa o cosmos inteiro no sentido de espaço, tempo e matéria.

Portanto, “céus” na Bíblia é o espaço de Deus e “terra” é o nosso espaço.

“Céus” não é um lugar feliz onde o povo de Deus vai quando morrer; e certamente não é o nosso lar se isso quer dizer que nosso destino final é deixar a “terra” e ir para o “céu”.

O plano de Deus é de Novos Céus e Nova Terra, os quais estarão unidos entre si na renovação de todas as coisas, de uma vez por todas.

Se você preferir, “céus” pode ser nosso lar temporário, depois dessa vida presente; mas o completo novo mundo, unido e transformado, será nosso destino final.

Uma vez que nós compreendamos que “céus e terra” querem dizer o que eles querem dizer na Bíblia, e que “céus” não é, repito não é, uma localização dentro de nosso próprio cosmos de espaço, tempo e matéria, situado em algum lugar acima no espaço, nós estamos prontos, ou tão prontos quanto é possível estar, para entender a ascensão, descrita de maneira simples e breve por Lucas [Cf. Lucas 24.53 e Atos 1.9].

O que aconteceu com Jesus foi único. Sua ascensão completa a surpreendente ressurreição.

Nos tempos de Jesus, ninguém tinha noção de espaço sideral. Ninguém imaginaria Jesus como um tipo de homem do espaço primitivo, indo além de nossa órbita, mas com chance de podermos alcança-lo se percorrêssemos a distância apropriada.

Eles acreditavam que “céus e terra” eram as duas esferas interconectadas da realidade de Deus e que o corpo ressurreto de Jesus foi o primeiro a estar ambientado em ambos espaços, antecipando o tempo quando tudo será renovado e colocado junto. Nesse momento, o renovado Jesus será a figura central.

Essa é a explicação para o evento descrito por Lucas. Jesus ser “elevado” não significa que ele foi para um lugar além da lua ou Marte, mas que foi para o espaço de Deus, para a dimensão de Deus.

A nuvem, como ocorre com frequência na Bíblia, é o sinal da presença de Deus: pense nas colunas de nuvem e fogo quando os filhos de Israel perambularam pelo deserto; ou nuvem e fumaça que enchia o Templo quando Deus se tornava presente de um novo jeito.

Jesus foi para a dimensão da realidade de Deus; mas ele voltará um dia, quando essa dimensão e a nossa presente for unida de uma vez por todas. Essa promessa está presente em toda a história do cristianismo desde então. Isso é o que quer dizer “segunda vinda”.

Existem, porém, duas coisas envolvidas no acontecimento da ascensão de Jesus.

Alguns leitores do primeiro século teriam identificado a primeira delas, outros a segunda, e alguns, talvez, as duas.

Primeiro: uma das promessas centrais do Antigo Testamento para o cristianismo primitivo estava em Daniel 7, onde alguém como um filho de homem é levado sobre as nuvens do céu para o Ancião de Dias, e é apresentado a ele e lhe dado poder real sobre as nações e, particularmente, sobre as “bestas”, os monstros representando as forças do mal e do caos.

Para o cristianismo primitivo, que certamente ponderava sobre essa passagem, a ascensão de Jesus indicava que Daniel 7 havia sido cumprido de uma forma dramática e inesperada, com a figura humana que tinha sofrido nas mãos dos poderes do mal, agora sendo exaltado na presença do próprio Deus, a fim de receber poder real.

Isso encaixa muito bem com a passagem prévia da ascensão, em Atos 1.6-8. É difícil, pois, supor que Lucas não teve intenção de fazer essa relação.

Segundo: alguns leitores de Lucas entendiam que quando um imperador romano morria, era usual declarar que alguém tinha visto sua alma escapar de seu corpo e ir para o céu (até hoje essa perspectiva pode ser vista no Arco de Tito, em Roma). 

A mensagem era muito clara: o imperador havia se tornado um deus (então, seu filho e herdeiro se intitulava “filho de deus”, o que é um título útil se você quer dominar o mundo).

Lucas, por sua vez, deixa claro [Cf. Lucas 24.36-43] que não foi a alma de Jesus que ascendeu aos céus, deixando seu corpo para trás. 

Na verdade, na sequência da história de Lucas se notará que Jesus é a realidade e os imperadores são a paródia. E quando, no final do livro de Lucas, a boa nova de Jesus está sendo pregada, abertamente, justamente em Roma, nós temos a sensação de dizer “É claro! Isso é como tinha de ser”.

Jesus, portanto, é o verdadeiro e legítimo rei, compartilhando o trono, e que, de alguma forma, parece identificar o único e verdadeiro Deus.


Nenhum comentário:

Postar um comentário