“Tendo dito
isso, foi elevado às alturas enquanto eles olhavam, e uma nuvem o encobriu da
vista deles.” (Atos 1.9)
Na Bíblia, céus e terra são duas metades do mundo criado por
Deus.
Embora Terra seja o nome dado, também, a nosso planeta em
particular, dentro de nosso sistema solar, na Bíblia, "terra" significa o cosmos
inteiro no sentido de espaço, tempo e matéria.
Portanto, “céus” na Bíblia é o espaço de Deus e “terra” é o
nosso espaço.
“Céus” não é um lugar feliz onde o povo de Deus vai quando morrer; e certamente não é o nosso lar se isso quer dizer que nosso
destino final é deixar a “terra” e ir para o “céu”.
O plano de Deus é de Novos Céus e Nova Terra, os quais
estarão unidos entre si na renovação de todas as coisas, de uma vez por todas.
Se você preferir, “céus” pode ser nosso lar temporário,
depois dessa vida presente; mas o completo novo mundo, unido e transformado, será
nosso destino final.
Uma vez que nós compreendamos que “céus e terra” querem
dizer o que eles querem dizer na Bíblia, e que “céus” não é, repito não é, uma localização dentro de nosso
próprio cosmos de espaço, tempo e matéria, situado em algum lugar acima no
espaço, nós estamos prontos, ou tão prontos quanto é possível estar, para
entender a ascensão, descrita de
maneira simples e breve por Lucas [Cf. Lucas 24.53 e Atos 1.9].
O que aconteceu com Jesus foi único. Sua ascensão completa a
surpreendente ressurreição.
Nos tempos de Jesus, ninguém tinha noção de espaço sideral.
Ninguém imaginaria Jesus como um tipo de homem do espaço primitivo, indo além
de nossa órbita, mas com chance de podermos alcança-lo se percorrêssemos a distância
apropriada.
Eles acreditavam que “céus e terra” eram as duas esferas interconectadas da realidade de Deus e que
o corpo ressurreto de Jesus foi o primeiro a estar ambientado em ambos espaços,
antecipando o tempo quando tudo será renovado e colocado junto. Nesse momento,
o renovado Jesus será a figura central.
Essa é a explicação para o evento descrito por Lucas. Jesus
ser “elevado” não significa que ele foi para um lugar além da lua ou Marte, mas que foi para o espaço de Deus, para a dimensão de Deus.
A nuvem, como ocorre com frequência na Bíblia, é o sinal da
presença de Deus: pense nas colunas de nuvem e fogo quando os filhos de Israel
perambularam pelo deserto; ou nuvem e fumaça que enchia o Templo quando Deus se
tornava presente de um novo jeito.
Jesus foi para a dimensão da realidade de Deus; mas ele
voltará um dia, quando essa dimensão e a nossa presente for unida de uma vez
por todas. Essa promessa está presente em toda a história do cristianismo desde
então. Isso é o que quer dizer “segunda
vinda”.
Existem, porém, duas coisas envolvidas no acontecimento da ascensão de Jesus.
Alguns
leitores do primeiro século teriam identificado a primeira delas, outros a
segunda, e alguns, talvez, as duas.
Primeiro: uma das promessas centrais do Antigo Testamento
para o cristianismo primitivo estava em Daniel 7, onde alguém como um filho de
homem é levado sobre as nuvens do céu para o Ancião de Dias, e é apresentado a ele
e lhe dado poder real sobre as nações e, particularmente, sobre as “bestas”, os
monstros representando as forças do mal e do caos.
Para o cristianismo primitivo, que certamente ponderava sobre
essa passagem, a ascensão de Jesus indicava que Daniel 7 havia sido cumprido de
uma forma dramática e inesperada, com a figura humana que tinha sofrido nas
mãos dos poderes do mal, agora sendo exaltado na presença do próprio Deus, a
fim de receber poder real.
Isso encaixa muito bem com a passagem prévia da ascensão, em Atos 1.6-8. É
difícil, pois, supor que Lucas não teve intenção de fazer essa relação.
Segundo: alguns leitores de Lucas entendiam que quando um
imperador romano morria, era usual declarar que alguém tinha visto sua alma
escapar de seu corpo e ir para o céu (até hoje essa perspectiva pode ser vista
no Arco de Tito, em Roma).
A mensagem era muito clara: o imperador havia se
tornado um deus (então, seu filho e herdeiro se intitulava “filho de deus”, o
que é um título útil se você quer dominar o mundo).
Lucas, por sua vez, deixa claro [Cf. Lucas 24.36-43] que não
foi a alma de Jesus que ascendeu aos céus, deixando seu corpo para trás.
Na
verdade, na sequência da história de Lucas se notará que Jesus é a realidade e
os imperadores são a paródia. E quando, no final do livro de Lucas, a boa nova
de Jesus está sendo pregada, abertamente, justamente em Roma, nós temos a
sensação de dizer “É claro! Isso é como tinha de ser”.
Jesus, portanto, é o
verdadeiro e legítimo rei, compartilhando o trono, e que, de alguma forma, parece
identificar o único e verdadeiro Deus.
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