sexta-feira, 15 de abril de 2016

Ressurreição: 7 mudanças cristãs em relação ao judaísmo







A Visão de Ezequiel. Francisco Collantes, 1630.





O paganismo antigo contém inúmeras teorias, mas toda vez que a ressurreição é mencionada, a resposta é uma firme afirmativa: sabemos que isso não acontece.

No entanto, o judaísmo antigo tem raízes na crença de que Deus é o criador do mundo, e de que, um dia ele colocará o mundo em ordem. Essa crença dupla, quando desenvolvida e analisada, principalmente em tempos de perseguição e martírio, produziu na época de Jesus uma crença da maioria na ressurreição definitiva do corpo. A esperança dos primeiros cristãos na vida além da morte, portanto, cabe comprovadamente no mapa judaico, não pagão.

Os primeiros cristãos, assim, apegavam-se firmemente, como a maioria dos seu contemporâneos judeus, à crença dupla sobre o futuro: primeiro, a morte e o que vier logo em seguida; segundo, uma nova existência corpórea em um mundo que acabou de ser recriado. 

Ressurreição, então, não é uma palavra adequada para “vida após a morte”; denota a vida após a “vida após a morte” (cf. os livros: A Ressurreição do Filho de Deus e Surpreendido pela Esperança).

Não existe nada que seja sequer remotamente parecido com isso no paganismo. É um conceito tão judaico quanto você pode imaginar. 

Contudo, dentro dessa crença judaica, há sete mutações cristãs primitivas:

1. Não há variação alguma de crenças sobre esse tema dentro do cristianismo primitivo, ao contrário do judaísmo, apesar de muitos cristãos terem sido de diferentes vertentes do judaísmo e do paganismo.

2. No judaísmo do segundo templo, a ressurreição não era tão importante, enquanto no cristianismo primitivo ela passou da circunferência para o centro. Tire as histórias do nascimento de Jesus e você perde quatro capítulos dos evangelhos; tire a ressurreição e você perderá todo o Novo Testamento e grande parte dos pais do segundo século também.

3. O judaísmo normalmente é vago quanto ao tipo de corpo que o ressurreto possuirá. Para os primeiros cristãos, o corpo da ressurreição, embora físico, seria um corpo transformado, cujo material, criado com o velho material, teria novas propriedades (cf. 1Coríntios 15).

4. Para os cristãos primitivos, a ressurreição, como um evento, se dividiu em duas partes. Os judeus do primeiro século esperavam a ressurreição acontecendo apenas no fim dos tempos com todo o povo de Deus ou, talvez, com toda a raça humana. Não encontramos fora do cristianismo o que se tornou uma característica central dentro dele: a crença de que a própria ressurreição aconteceu com uma pessoa no meio da história, antecipando e garantindo a ressurreição final de seu povo no final da história.

5. Por acreditarem que a ressurreição havia começado com Jesus e seria concluída na grande ressurreição final, no último dia, os primeiros cristãos acreditavam também que Deus os havia chamado para trabalharem com ele, no poder do Espírito, a fim de implementar a conquista de Jesus e, com isso, prever a ressurreição final na vida pessoal e política, na missão e na santidade. Se Jesus, o Messias, era o futuro de Deus que chegava em pessoa no presente, então aqueles que pertenciam a Jesus e o seguiam no poder de seu espírito estavam incumbidos de transformar o presente, na medida do possível, à luz desse futuro.

6. No Antigo Testamento, a ressurreição funcionava também como uma metáfora para o retorno do exílio (Ezequiel 37). No Novo Testamento, surgiu um novo uso metafórico: a ressurreição tem a ver com batismo e santidade (Romanos 6 e Colossenses 2-3), embora sem afetar o referente concreto de uma ressurreição futura (Romanos 8).

7. Ninguém no judaísmo esperava que o Messias morresse e, portanto, ninguém havia imaginado que ele ressuscitaria dentre os mortos. O Messias deveria lutar a batalha vitoriosa de Deus contra os ímpios pagãos, reconstruir ou purificar o templo e trazer a justiça divina ao mundo. Era inimaginável um messias crucificado. Todavia, desde o início, os cristãos afirmaram que Jesus era o Messias precisamente por causa de sua ressurreição. Isso, ainda, tem uma implicação política: afirmar que Jesus Cristo é o Senhor era dizer que César não é. A morte é a última arma do tirano; a questão da ressurreição é que a morte foi vencida.


(Surpreendido pelas Escrituras, pg. 53 a 58).


Nenhum comentário:

Postar um comentário