A Visão de Ezequiel. Francisco Collantes, 1630.
O paganismo antigo contém inúmeras teorias, mas toda vez que
a ressurreição é mencionada, a resposta é uma firme afirmativa: sabemos que
isso não acontece.
No entanto, o judaísmo antigo tem raízes na crença de que
Deus é o criador do mundo, e de que, um dia ele colocará o mundo em ordem. Essa
crença dupla, quando desenvolvida e analisada, principalmente em tempos de
perseguição e martírio, produziu na época de Jesus uma crença da maioria na
ressurreição definitiva do corpo. A esperança dos primeiros cristãos na vida
além da morte, portanto, cabe comprovadamente no mapa judaico, não pagão.
Os primeiros cristãos, assim, apegavam-se firmemente, como a
maioria dos seu contemporâneos judeus, à crença dupla sobre o futuro: primeiro,
a morte e o que vier logo em seguida; segundo, uma nova existência corpórea em
um mundo que acabou de ser recriado.
Ressurreição, então, não é uma palavra adequada para “vida após a morte”; denota a vida após a “vida após a morte” (cf. os livros: A Ressurreição do Filho de Deus e Surpreendido pela Esperança).
Ressurreição, então, não é uma palavra adequada para “vida após a morte”; denota a vida após a “vida após a morte” (cf. os livros: A Ressurreição do Filho de Deus e Surpreendido pela Esperança).
Não existe nada que seja sequer remotamente parecido com
isso no paganismo. É um conceito tão judaico quanto você pode imaginar.
Contudo, dentro dessa crença judaica, há sete mutações cristãs primitivas:
Contudo, dentro dessa crença judaica, há sete mutações cristãs primitivas:
1. Não há variação alguma de crenças sobre esse
tema dentro do cristianismo primitivo, ao contrário do judaísmo, apesar de muitos cristãos terem sido de
diferentes vertentes do judaísmo e do paganismo.
2. No judaísmo do segundo templo, a ressurreição
não era tão importante, enquanto no cristianismo primitivo ela passou da
circunferência para o centro. Tire as histórias do nascimento de Jesus e você
perde quatro capítulos dos evangelhos; tire a ressurreição e você perderá todo o
Novo Testamento e grande parte dos pais do segundo século também.
3. O judaísmo normalmente é vago quanto ao tipo de
corpo que o ressurreto possuirá. Para os primeiros cristãos, o corpo da
ressurreição, embora físico, seria um corpo transformado, cujo material, criado
com o velho material, teria novas propriedades (cf. 1Coríntios 15).
4. Para os cristãos primitivos, a ressurreição, como
um evento, se dividiu em duas partes. Os judeus do primeiro século esperavam a
ressurreição acontecendo apenas no fim dos tempos com todo o povo de Deus ou,
talvez, com toda a raça humana. Não encontramos fora do cristianismo o que se
tornou uma característica central dentro dele: a crença de que a própria
ressurreição aconteceu com uma pessoa no meio da história, antecipando e
garantindo a ressurreição final de seu povo no final da história.
5. Por acreditarem que a ressurreição havia
começado com Jesus e seria concluída na grande ressurreição final, no último
dia, os primeiros cristãos acreditavam também que Deus os havia chamado para
trabalharem com ele, no poder do Espírito, a fim de implementar a conquista de
Jesus e, com isso, prever a ressurreição final na vida pessoal e política, na
missão e na santidade. Se Jesus, o Messias, era o futuro de Deus que chegava em
pessoa no presente, então aqueles que pertenciam a Jesus e o seguiam no poder
de seu espírito estavam incumbidos de transformar o presente, na medida do
possível, à luz desse futuro.
6. No Antigo Testamento, a ressurreição funcionava também
como uma metáfora para o retorno do exílio (Ezequiel 37). No Novo Testamento,
surgiu um novo uso metafórico: a ressurreição tem a ver com batismo e santidade
(Romanos 6 e Colossenses 2-3), embora sem afetar o referente concreto de uma
ressurreição futura (Romanos 8).
7. Ninguém no judaísmo esperava que o Messias
morresse e, portanto, ninguém havia imaginado que ele ressuscitaria dentre os
mortos. O Messias deveria lutar a batalha vitoriosa de Deus contra os ímpios
pagãos, reconstruir ou purificar o templo e trazer a justiça divina ao mundo.
Era inimaginável um messias crucificado. Todavia, desde o início, os cristãos
afirmaram que Jesus era o Messias precisamente por causa de sua ressurreição.
Isso, ainda, tem uma implicação política: afirmar que Jesus Cristo é o Senhor
era dizer que César não é. A morte é a última arma do tirano; a questão da
ressurreição é que a morte foi vencida.
(Surpreendido pelas Escrituras, pg. 53 a 58).
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