terça-feira, 29 de março de 2016

O sentido da ressurreição em 1Coríntios 15


Resumo do livro Os Desafios de Jesus, pg. 159 a 165.

O que significava ressurreição para o apóstolo Paulo?

Antes de tudo é importante lembrar que Paulo veio de um histórico farisaico. Ele esperava ardentemente pela restauração de Israel e pela chegada de um novo momento, no qual Deus haveria de julgar o mundo e resgatar seu povo.

Devemos ter isso em mente ao ler 1 Coríntios 15.

Vamos começar com o verso 8: “depois destes apareceu também a mim, como a um que nasceu fora de tempo.”

Essa é uma imagem violenta, envolvendo a ideia de uma cesariana, na qual um bebê é tirado do ventre antes de estar pronto, hipnotizado pela forte luz que aparecera subitamente, com dificuldades de respirar nesse novo mundo.

Paulo parece descrever aqui mais do que sua experiência na estrada para Damasco (Atos 9). Havia acontecido com ele algo especial, que não acontecera a outros.

Voltando para o início do capítulo, encontramos entre os versos 1 a 7 termos técnicos para a passagem de uma tradição: Paulo havia recebido algo; então, passou adiante.

A tradição inclui o sepultamento de Jesus. Nas palavras de Paulo, dizer que alguém tinha sido sepultado e ressuscitado após três dias (v.4) era afirmar que o sepulcro estava vazio.

A palavra “ressurreição” nesse contexto indicava que alguém se levantou dentre os mortos e não que se tratava de uma experiência espiritual. Tampouco era prova de vida após a morte.

Para Paulo, a ressurreição significava mais do que o evento em si. Significava que as Escrituras haviam se cumprido, que o Reino de Deus havia chegado e que a nova era havia começado no meio da era presente.

Isso é diferente de afirmar que Paulo havia achado alguns textos bíblicos para provar o que ele estava dizendo. Na verdade, Paulo afirmava que toda a narrativa bíblica havia, finalmente, chegado ao seu clímax através daqueles impressionantes eventos (a morte e a ressurreição de Jesus).

Como resultado, Paulo pode então, nos versos 12 a 28, afirmar que a vinda da nova era se daria em dois momentos: primeiro o Messias e, então, a ressurreição de todos aqueles que a ele pertenciam.

Percebe-se que o Messias não é um tipo de espírito ou um anjo. Ele não se encontrava em um estágio intermediário para no tempo oportuno ressuscitar dos mortos.

Jesus já havia ressuscitado. Como ser humano, já havia sido exaltado na presença de Deus. Jesus já estava reinando no mundo, como ser humano que cumpriu o destino traçado para a raça humana desde o sexto dia da criação (esse é o sentido do v. 27 ao citar Sl 8.6 – Deus havia colocado todas as coisas debaixo dos seus pés).

Sobre essa base, Paulo enfatiza, nos versos 29 a 34, o futuro recebimento de novos corpos dos cristãos mortos e a transformação nos corpos dos cristãos que estiverem vivos.

Perceba, então, que a presente vida da igreja não se resume em “ganhar almas”, como uma tentativa de se fazer seres despidos de corpos para um futuro no qual corpos não existirão. Trata-se de trabalhar com seres humanos integrais, que receberão seus corpos no fim dos tempos, à semelhança do modelo do Messias.

Mas que tipo de corpo será esse?

Seguindo os versos 50 a 57, vemos Paulo afirmar clara e enfaticamente sua crença em um corpo que será transformado e não abandonado. A presente realidade do corpo, em suas fraquezas, enfermidades e morte não farão parte do novo corpo (esse é o significado de “carne e sangue não podem herdar o reino de Deus”- v.50).

Para Paulo, “carne e sangue” não possuem significado de matéria por si só, mas da corruptibilidade à qual a matéria está sujeita. Ele está, portanto, dizendo que a ressurreição trará corpos incorruptíveis (v.52) e nós (os que estiverem vivos no dia final) seremos transformados.

Como em 2Coríntios 5, Paulo vê o presente corpo físico sendo revestido pelo novo, como um novo modelo de experiência e realidade física. Algo que ultrapassa o que conhecemos. Isso vale para a ressurreição de Jesus também.

Entre as passagens examinadas, está a parte mais complexa do capítulo: os versos 35 a 49. Neles, Paulo fala sobre diferentes formas de realidades físicas, envolvendo as ideias de continuidade e descontinuidade.

Nesse contexto, “corpo espiritual” não significa corpo “não físico” (isso seria considerar a cosmovisão helenística, a qual não tinha espaço no judaísmo).

Paulo, na verdade, está contrastando o corpo presente corruptível (soma psychikon) com o corpo futuro incorruptível (soma pneumatikon). [Cf. o comentário de 1Co 15.35-49, NT for Everyone]

Para finalizar:

Paulo, escrevendo no contexto do início dos anos 50, dizendo representar o pensamento da igreja como um todo, insistia em certas coisas a respeito da ressurreição de Jesus:

1.   Foi o memento no qual o Criador cumpriu suas promessas a Israel, salvando-os dos “seus pecados”, isto é, seu exílio. Isso logo deu início aos “últimos dias”, no fim dos quais a vitória sobre a morte, iniciada na Páscoa, estava para ser completada.

2.   Envolvia a transformação do corpo de Jesus: não foi a ressurreição do corpo da morte de Jesus nos termos em que ele era anteriormente, nem o abandono daquele corpo à decomposição. O argumento de Paulo envolvia o túmulo vazio.

3.   Envolvia Jesus sendo visto vivo por um período limitado de tempo, o que transformou a perspectiva da igreja a seu respeito. As primeiras visões do Jesus ressurreto constituíram alguns como apóstolos (1Co 9.1).

4.   Foi o protótipo da ressurreição de todo o povo de Deus no fim dos dias.

5.   Foi a base não apenas para a esperança futura dos cristãos, mas para sua ação presente.


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