sábado, 12 de março de 2016

O pedido de Tiago e João


Resumo do comentário traduzido de NT for Everyone

(Evangelho de Marcos - Mc 10.35-45)


35 Nisso Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se dele e disseram: “Mestre, queremos que nos faças o que vamos te pedir”. 36 “O que vocês querem que eu lhes faça?”, perguntou ele. 37 Eles responderam: “Permite que, na tua glória, nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda”. 38 Disse-lhes Jesus: “Vocês não sabem o que estão pedindo. Podem vocês beber o cálice que eu estou bebendo ou ser batizados com o batismo com que estou sendo batizado?” 39 “Podemos”, responderam eles. Jesus lhes disse: “Vocês beberão o cálice que estou bebendo e serão batizados com o batismo com que estou sendo batizado; 40 mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não cabe a mim conceder. Esses lugares pertencem àqueles para quem foram preparados. 41 Quando os outros dez ouviram essas coisas, ficaram indignados com Tiago e João. 42 Jesus os chamou e disse: Vocês sabem que aqueles que são considerados governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. 43 Não será assim entre vocês. Ao contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo; 44 e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo de todos. 45 Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.

Essa é a terceira vez que Jesus avisa, solenemente, aos discípulos o que acontecerá com ele. 

Sua morte não será surpresa. 

Ela é parte de sua vocação, reconhecida desde a voz em seu batismo, a qual ecoa a profecia de Isaias sobre o servo e sua morte redentora (cf. Isaías 40 a 55, especialmente 53). 

Na passagem de Marcos, Jesus retorna explicitamente para esse quadro profético.
As afirmações de Jesus, assim, apontam não apenas para a sua morte na cruz, mas para o clímax de sua vocação. Esse tem sido o centro do cristianismo autêntico.

Muitas pessoas, no entanto, tem dito repetidas vezes, que esse “cristianismo autêntico” é, na verdade, um jeito de se comprometer com o poder político (isso é, provavelmente, porque a cruz, algumas vezes, tem sido usada para encorajar uma piedade privada, a qual deixa os problemas maiores do mundo intocados).

Essa perspectiva é o exato oposto da verdade.

Tiago e João querem tornar a jornada messiânica de Jesus a Jerusalém em uma marcha para a glória, uma glória na qual eles sentarão ao seu lado quando ele se tornar rei.

Para eles, os avisos de Jesus a respeito de sofrimento, morte e ressurreição significam apenas: “será duro, mas nós venceremos”.

Mas a cruz não é, para Jesus e para Marcos, apenas uma parte difícil do caminho. Ela é, precisamente, o caminho de Deus para colocar o poder e autoridade terrenos sob seu domínio.

Quando, no fim dessa passagem, Jesus cita a canção do servo (“dar sua vida em resgate de muitos”), ele destaca o que Isaías teria enfaticamente concordado: o reino de Deus vira as ideias de poder e glória de cabeça para baixo e de dentro para fora.

O sentido da cruz no contexto de Marcos, portanto, é fundamentalmente uma interpretação política.

A cruz não é apenas sobre Deus perdoar nossos pecados por causa da morte de Jesus (embora, é claro, isso seja central). 

A cruz é o modo de Deus consertar o mundo e a nós mesmos. Ela desafia e subverte todos os sistemas humanos, os quais afirmam colocar o mundo em ordem, mas, de fato, apenas conseguem colocar um grupo diferente no comando.

A razão de Tiago e João não entenderem Jesus é a mesma porque muitos pensadores subsequentes, até nossos dias, estão desesperados para encontrar uma forma de ter Jesus sem a cruz: a cruz confronta todo orgulho e glória humana. E isso carrega importante significado político. Nisso está o problema.

E a conversa de Jesus sobre beber a taça e receber o batismo?

São densas e difíceis palavras.

A “taça” parece ser a taça da ira de Deus, conforme o profeta Jeremias. Jesus, aqui e no Getsêmani (14.36), encara o fato de que, no justo julgamento de Deus, a maldade do mundo inteiro e de Israel em particular, será colocada sobre seus ombros.

Isso toma uma forma específica e concreta: como no AT ira de Deus é o que acontece quando um exército estrangeiro vem e destrói o povo de Deus, a cidade de Deus, a tarefa de Jesus é seguir em frente e tomar a plenitude da “ira” sobre si mesmo.

O batismo, por sua vez, parece voltar ao começo da história, onde, através de João Batista, Jesus se entrega à vocação do sofrimento messiânico, a fim de estabelecer a nova aliança de Deus com o seu povo.

Então, sua morte iminente era para ser entendida como um tipo de batismo. Em outras palavras, Jesus desceria às águas da morte, para que os pecados fossem perdoados (cf. Romanos 6.3-11; Colossenses 2.11-15).

E sobre quem sentará à direita e à esquerda de Jesus?

Tiago e João não sabem o que eles estão pedindo, mas os leitores de Marcos, após poucos capítulos de espera e suspense, descobrirão.

É na cruz que Jesus “senta em sua glória”, com uma pessoa ao seu lado direito e outra ao seu lado esquerdo. [É para os dois ladrões que os lugares estão reservados.]

Marcos nos dá, portanto, um quadro completo da verdadeira glória real e do que a morte de Jesus significará.

Seguir a Jesus

É importante lembrar, finalmente, que um dos temas subjacentes do livro de Marcos é “seguir a Jesus”.

Quando, então, nós olhamos para o quadro que ele está desenhando, nós podemos ficar admirados e temerosos. Jesus, porém, está indo para Jerusalém colocar os valores e sistemas de poder do mundo sobre seus ombros. E dar sua vida em resgate de muitos.

Se nós quisermos receber o que ele tem para oferecer, nós não temos escolha. Temos de segui-lo.


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