Entrevista com N.T. Wright sobre pregação
http://reveziolima.blogspot.com.br/2008/11/ferramentas-para-pregao.html
Há alguns meses o autor e pastor Winn Collier contatou a
www.preachingtoday.com informando-a de que tinha uma entrevista agendada com o
autor, intelectual e pastor N. T. Wright e perguntou se tínhamos interesse em
publicá-la. “Sim!”, eu respondi. “E não se esqueça de perguntar a ele sobre os
sermões.” Foi o que Collier fez. Por meio dessa entrevista Wright nos forneceu
uma breve, porém interessante perspectiva sobre seu processo de preparação de
sermões.
Como a sua visão teológica influencia a sua maneira de
pregar?
Não sou o tipo de pregador altamente reflexivo a respeito
daquilo que geralmente escrevo para os meus sermões. Não penso no que estou
fazendo de uma forma estruturada – simplesmente acontece. Tenho feito dessa
maneira há muito tempo: faço minhas orações, estudo as passagens sobre as quais
vou pregar e, então, é como se as idéias fossem brotando de dentro para fora,
e, conforme estou orando, compreendo ou pelo menos tento discernir sobre o que
supostamente irei falar. Existem diferentes tipos de sermões, e quando chega a
hora simplesmente acontece. Mas realmente acredito que desde que comecei a
refletir a respeito da ressurreição e da justiça, vejo que as minhas pregações
através dos últimos anos têm sido direcionadas especificamente para temas sociais
como a perseguição de cristãos em certos países, a infelicidade das pessoas e o
aquecimento global. Todos estes temas fazem parte da criação perfeita de Deus
que está em sofrimento, e é a eles que a mensagem de ressurreição precisa
chegar. Por isso, às vezes me pego saindo direto de João 20 para algum assunto
do momento. Isso não tem muito a ver com o tipo de pregação, é apenas o
conteúdo.
Você tem um estilo particular de pregação?
Realmente não sei. Provavelmente sim; creio que meus amigos
podem esclarecer isso melhor. Talvez eu tente dizer muita coisa para um sermão
comum. Tento ser expositivo, mas não do tipo que diz que “o verso um diz isso”
ou o “verso dois diz aquilo” – mas mergulho fundo na passagem e volto por um
ângulo oblíquo de maneira que possa levar as pessoas a pensar certas coisas e a
imaginar algumas cenas. Assim, quando elas percebem já estão no meio da
passagem, e conseguem entender sobre o que estou falando. Isso é o que espero
de um método: que ele sirva para levar pessoas até o ponto em que possam
despertar e se surpreenderem por estar bem no meio de João 20 ou de outro
trecho qualquer da Bíblia. É dessa maneira que encaro um sermão, e isso é
sempre muito estimulante.
Você diz que “para viver no mundo que Deus criou é
necessário usar a imaginação”. Certamente a ressurreição e o avivamento de
todas as coisas ampliam a imaginação humana. Como você incentiva a imaginação
em suas pregações?
Bom, talvez eu não incentive tanto quanto deveria. Porém,
tento fazê-lo através de ilustrações e alusões à arte e à música, a fim de
ampliar os horizontes das pessoas para que consigam enxergar outros mundos
maiores que não sejam nem, a) o mundo secular em que vivem todos os dias sem se
aperceberem, e nem b) o mundo das puras idéias da teologia cristã. Em outras
palavras, tento encorajá-las a imaginar trechos de músicas ou de qualquer outra
coisa que descortine a visão de novos mundos que estão bem à sua frente. Também
costumo usar histórias ilustrativas. Faço isso em minhas pequenas séries sobre
o Novo Testamento, em que cada passagem começa com uma historinha. É
extraordinário como isso ajuda as pessoas a entenderem melhor. Geralmente são
histórias simples, coisas do dia-a-dia; mas as pessoas dizem que “elas
realmente me ajudaram a ‘entrar’ na passagem e viver em um mundo imaginário”.
Um grande artista, naturalmente, faz esse tipo de coisa. C.S. Lewis faz isso em
O grande abismo, onde ele pinta um quadro de um mundo mais real, mais físico e
mais sólido do que aquele em que vivemos. O mais interessante é que ele torna
esse mundo crível. Este é um feito extraordinário, pois não são muitas as
pessoas que tentaram fazer isto, e ainda menor é o número daquelas que
conseguiram. Uma mensagem deve trazer para a congregação a mesma sensação que
você tem depois de ouvir uma sinfonia ou caminhar por uma galeria de arte.
Você desafia a igreja a pensar profunda e ricamente sobre
arte, dizendo que “Talvez a arte possa (...) vislumbrar futuras possibilidades
geradas no tempo presente”. Você acredita que – assim como escrever, pintar ou
tocar um instrumento – pregar possa ser uma forma de arte?
Pregar é uma forma de arte desde que permitam que seja.
Muitos pregadores, tanto de igrejas conservadoras quanto de igrejas modernas,
ficam presos a uma forma particular de pregar que talvez não seja arte, sendo
simplesmente mais da mesma coisa. Em sua melhor forma, uma mensagem deve trazer para a
congregação a mesma sensação que se tem depois de ouvir uma sinfonia ou de
caminhar por uma galeria de arte. Ouvi um sermão maravilhoso de meu colega, o
Deão de Durham, na Manhã de Oração do Domingo de Páscoa. Ele trouxe um poema e
falou de sua recente viagem ao Egito; e fez com estes dois elementos um
mosaico, a partir do qual chegou até a história da Páscoa. Foi extraordinário.
Estávamos vendo a história sob um novo ponto de vista. Ainda tenho o sermão em
minha mente. Um sermão que faz isso pelas pessoas é uma verdadeira dádiva; como
uma peça de música ou um poema.
Em outra
oportunidade, você mencionou que “é preciso que falemos sobre Deus. O que
significa dizer que temos que fitar o sol”. Então alguém poderia pensar que
para pregar, obrigatoriamente, temos que falar sobre Deus. Como fazer com que
nossas mensagens conduzam as pessoas na ousada e ofuscante prática de encarar o
sol?
Felizmente, quando digo que encaramos o sol é porque estamos
falando sobre Jesus. Nós, pregadores, nunca falaremos o suficiente a respeito
de Cristo. Precisamos lembrar a nós mesmos de que quando falamos sobre Jesus
também estamos falando sobre Deus. O Novo Testamento diz que por nossa própria
conta não podemos saber exatamente quem é Deus. Podemos ter varias idéias a
respeito dele, mas ele é revelado através de Jesus. Precisamos educar as
pessoas para pensarem novamente no significado da palavra Deus, compreendendo-a
a partir de Jesus. Isso é muito difícil por que geralmente as pessoas têm em
suas mentes e em seus corações conceitos sobre Deus vindos de várias fontes.
Mas essas noções de Deus dificilmente estão relacionadas a Jesus. O perigo
reside em que as pessoas tentem relacionar Jesus àquelas imagens de Deus que já
possuem, em vez de relacioná-lo da maneira correta. É por isso que sempre
precisamos nos voltar em direção a Jesus, e lembrar-nos que ele é o único por
quem o mundo foi feito e para quem o mundo foi feito. O grande autor de tudo
isso é aquele a quem Jesus orou dizendo “Abba”. Por esta razão, em Jesus podemos começar a conhecer Deus
como nosso Abba Pai e experimentar sua presença paternal junto a nós, e com
isso nos aproximarmos do mistério, que é orar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário