sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Sobre os Salmos


Segundo E. Peterson, os Salmos são a escola de oração do povo de Deus (cf. "A oração que Deus ouve"). Embora muitos cristãos os usem de maneira seletiva (escolhem apenas passagens específicas como palavras de encorajamento), seu propósito maior é nos ensinar a orar. Isso quer dizer que todos os salmos e o salmo todo devem ser nosso guia devocional. Podemos dizer, assim, que os Salmos são um dos pilares de nossa espiritualidade.

No livro "The case for the Psalms: why they are essential" (Em defesa dos Salmos: porque eles são essenciais), Tom Wright não só reafirma a importância dos salmos como desvenda uma de suas principais funções: a mudança da cosmovisão (como enxergamos o mundo). Como ele mesmo diz, "eu proponho nesse livro que orar e cantar regularmente os Salmos é transformador. Ele muda a maneira de nós entendermos alguns dos mais profundos elementos de quem nós somos, ou melhor, quem, onde, quando e o que nós somos: criaturas de espaço, tempo e matéria." (pg. 7).

Os salmos, na época de Jesus, eram como "hinários" memorizados desde a infância e, com certeza, formaram a vida de Jesus e de Paulo, bem como dos primeiros cristãos: "O que Jesus cria e entendia sobre a sua própria identidade e vocação, e o que Paulo veio a acreditar sobre a conquista única de Jesus, foi crida e entendida dentro de um mundo formatado pelos salmos. Essa mesma formatação, incrivelmente, está disponível para nós hoje." (pg.11).

Wright trata sobre o tema da cosmovisão em vários de seus trabalhos. Particularmente, em "Surpreendido pelas Escrituras" (cap.1 e 7), percebe-se como a cosmovisão contemporânea e cristã teve influência de fontes diferentes da Bíblia. Uma delas é o iluminismo.

Acredita-se, nessa perspectiva, que o mundo virou à esquina definitivamente no século XVIII, a partir da revolução francesa, quando abandonou suas superstições e mentalidade submergida nas trevas da idade média e se direcionou para a luz da sabedoria humana. Assim, tudo o que vem antes deveria ser entendido como ultrapassado e o que a humanidade construiria a partir disso seria considerado caminho para a evolução.

Claro, muitas descobertas científicas e tecnologias ajudaram a solidificar esse pensamento, bem como as guerras, a instabilidade ecológica e a miséria ainda presente no mundo trouxeram um questionamento de sua validade. Mas, de maneira prática, a cosmovisão do Deus criador revelado em Jesus foi desconsiderado. Sem perceber, concebemos um mundo com Deus distante, que apenas interfere em situações especiais. A ética e a unidade cristã, tão caras para Jesus e para Paulo, recebe concessões a todo momento. A esperança, muitas vezes, é trocada pela indiferença ou pelo medo.

É interessante perceber que o iluminismo se utiliza de uma antiga filosofia (epicurismo) para formatar uma realidade forjada pela força do ser humano, sem a interferência dos "deuses" antigos ou do próprio Deus revelado em Cristo. Isso é uma longa história que merece ser comentada em outro momento. 

A dificuldade, portanto, que nós temos para superar a cosmovisão que nos foi legada é real. Graças a Deus pela herança dos salmos.

Mas, como os salmos transformam a cosmovisão? Como podemos usá-los na prática?

Isso será tema para outra postagem.

Que Deus abençoe nossa jornada junto com os salmos.

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