segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Acerca do "mundo" que nos odeia...

A seguir, uma reflexão pessoal de João 15.18-19, a partir da leitura do comentário bíblico “NT for Everyone”.



“18 Se o mundo os odeia, tenham em mente que antes me odiou. 19 Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia.”

Em João 15.18, Jesus adverte aos discípulos que o mundo vai odiá-los.

Mas quem era esse “mundo”, afinal?

Era o mundo pagão, da cultura grega e romana; o mundo de César?

Não!

Segundo Tom Wright, "o mundo referido por Jesus era o mundo onde ele havia nascido e vivido, o mundo da Galiléia e Jerusalém, de galileus e judeus. Era o mundo dos filhos de Abrãao, pessoas que estudavam e conheciam a Lei de Moisés. Era o mundo que pensava a cerca de si mesmo como o povo de Deus. Esse era o mundo que olhava para Jesus e via o que ele fazia; ouvia o que ele dizia e respondia: não, obrigado! Esse era o mundo que viu o cego ser curado e permaneceu cego". (João 9)

É possível depreender, a partir dessa análise, que uma das questões proposta por Jesus aos discípulos foi a redefinação de sua cosmovisão. Em outras palavras, Jesus está revolucionando a forma através do qual os seus seguidores devem enxergar o mundo. 

O sistema religioso onde eles foram criados e formatados estava equivocado. As Escrituras e as promessas de Deus foram deturpadas. “Creiam na Boa Notícia”, anunciava Jesus. “O reino de Deus chegou! Arrependam-se; abandonem o sistema antigo e vivam a nova realidade que será estabelecida em e através de mim.” (cf. Marcos 1.15).

Com certeza, os grandes conflitos de Jesus eram com os religiosos, afinal, ele veio para as “ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10.6; 15.24). A imagem da “videira verdadeira” (v.15.1), a qual simbolizava o verdadeiro Israel, contrastava com a videira que não frutificava adequadamente (Isaías 5). 

Observe, então, que os mestres do mundo onde Jesus foi formado não atentaram para as advertências dos profetas. Agora, a “videira verdadeira” vem para revelar o real projeto de Deus para salvar o mundo inteiro. E esse projeto é diferente daquilo que eles pensavam. 

O Messias veio com uma mensagem para amar os inimigos e não para destruí-los; para caminhar a segunda milha e não buscar os seus próprios interesses; para dar a outra face e estabelecer a nova era do perdão e não buscar a vingança impulsiva; para conquistar pela subversão e não pela coerção. 

E mais, Jesus ensinava que o Messias iria conquistar seu objetivo através de sua morte e ressurreição e estabelecer o seu reino de amor pela graça e não pela lei.

Isso era demais para eles. Por isso, o “mundo” odiará os discípulos como odiou a Jesus. Discípulos tendem a seguir as orientações do Mestre. 

Sempre que a visão de mundo de alguém é desafiada, gerará inconformidade. A luta odiosa será pela manutenção da estrutura vigente. O mundo é resistente à mudança.

Isso nos leva a um importante detalhe que geralmente nos escapa.

“Vocês não são desse mundo?” (v.19)

Para Wright, "a tradução desse texto na maioria das versões da Bíblia nos induz a pensar equivocadamente. No grego, a expressão ek tou kosmou toutou significa 'vem desse mundo' e não 'é desse mundo'”. 

O reino de Jesus, então, não veio desse mundo, ou seja, não se origina no contexto da cosmovisão e da ordem do mundo vigente.

Isso nos leva a perceber que não existe uma guerra entre pessoas “espirituais” e pessoas “mundanas”. O mundo não é um simples "inimigo", mas um contexto que necessita ser redimido em Jesus. 

Esse tipo de pensamento dualista é alimentado pela ideia de que habitamos em um mundo mal, cujo destino será a destruição, enquanto alguns privilegiados serão levados para outro lugar, no céu. 

Há muito a falar sobre isso, mas é importante lembrar que a Nova Jerusalém desce do céu e se estabelece na terra (Ap 21.1-2). 

O futuro do mundo, portanto, é a nova criação conquistada em e através de Jesus. Os que estão em Cristo, são surpreendidos pela esperança da ressurreição (cf. "Surpreendido pela Esperança").

A orientação para os discípulos não é para eles se manterem afastados do mundo como um grupo privilegiado de salvos. Como a oração de Jesus diz, os discípulos não devem ser retirados do mundo, mas serem livres do mal (Jo 17.15). 

Wright complementa: "Como o reino do próprio Jesus (João 18.36), os discípulos são para o mundo. Ele são enviados para dentro dele, como Jesus foi, a fim de serem testemunhas do amor de Deus e implementar a sua vitória.".

Ainda: "Aqueles que seguem a Jesus se encontrarão em uma situação única, encarando tanto perigos como oportunidades. Felizmente, eles não ficarão sozinhos. O 'auxiliador' (João 14.16), o Espírito da verdade, virá do Pai e viverá neles, falará a eles e ao mundo através deles, quem Jesus realmente era e é.". 

Ser seguidor de Jesus, assim, implica em falar sobre Jesus ao mundo. O mundo não gostará, mas deverá ser feito. Esse é o desafio de Jesus para todos nós.

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